A Estrada de Ferro da Bahia ao São Francisco e a Estação dos encontros e despedidas

Foto: Acervo Maria Franca Pires


Inaugurada em 24 de fevereiro de 1896, em Juazeiro, na Bahia, a Estrada de Ferro da Bahia ao São Francisco, como foi denominada, fora aguardada como “o grande sonho de Joaquim Jerônimo Fernandes da Cunha”, político do então Império do Brasil, nascido nesta cidade. A grande obra que se instalava em Juazeiro teve seu dia de estreia marcado como uma festividade, que contou com a presença de importantes personagens do país, como o vice-presidente da República, Dr. Manoel Vitorino Pereira, e do ministro da Viação, Indústria e Obras Públicas, Dr. Antônio Olinto dos Santos Pires, além de representantes da imprensa da Bahia e do Rio de Janeiro. Neste dia, Miguel de Teive e Argolo, o engenheiro responsável pela suntuosa obra, recebeu um reconhecimento no formato de uma “bilheteira de prata fosca com a figura de um anjo sustendo nas asas um cartão de ouro”, com os seguintes dizeres: “Parabéns ao Ilustre Sr. Engenheiro Miguel de Teive e Argolo. Em 24 de fevereiro de 1896. Gratidão dos Juazeirenses”.

A obra da Estrada de Ferro da Bahia ao São Francisco foi resultado de mais de 30 anos de obstinação de Joaquim Jerônimo Fernandes da Cunha, que se atentava para que não fossem desviados os rumos do traçado da estrada, bem como para que o Governo considerasse a alta prioridade que exigiam os superiores interesses do Império do Brasil e de sua província, a Bahia. Como demonstração de seu apreço por sua terra, o político brasileiro costumava dizer: “sempre que se tratar da província da Bahia e da Navegação do São Francisco, haverão de encontrar-me na estacada, queimando o último cartucho.” 

Este importante empreendimento contou, anos depois, com a construção da Estação de Juazeiro, inaugurada a 15 de novembro de 1907. Com desvelado requinte arquitetônico baseado no estilo colonial, este edifício foi ponto de encontro e despedidas que marcaram a história da cidade. Edificada sobre bases de concreto, de quatro metros de profundidade por três de largura, tinha a sua frente voltada para o rio São Francisco. Alguns detalhes deste empreendimento arquitetônico foram delineados no livro “Memória histórica de Juazeiro”, de João Fernandes da Cunha (1978):


“A sua fachada, de frente para o rio, justamente a parte mais bela e mais apreciável do prédio, era encimada por uma belíssima alegoria: aos lados, dois mastros que assentavam sobre duas agulhas, semelhantes a torres, onde se viam dois símbolos de Mercúrio, representando o Comércio e a Indústria. Ao centro, dois gigantes sentados nas bordas de um batel, suspendiam, nas mãos, uma roda de locomotiva atravessada por uma asa, simbolizando o progresso, empunhando o da direita, que significava o Oceano Atlântico, representado por Netuno, o seu tridente, e o da esquerda, que representava o Rio São Francisco, uma igara e um remo, inclinado para o nascente.

A plataforma e os salões de passageiros eram ladrilhados de mármore italiano e, de ambos os lados da escada que dava acesso à plataforma, como que servindo de sentinelas do edifício, existiam dois grandes candelabros, emoldurados de roda alada e encimados por uma criança, simbolizando o futuro.

A escada era, ainda, guarnecida por um belíssimo e artístico gradil de ferro, que partia das duas colunas laterais em cujo topo se encontravam os candelabros, e todo o piso do pavimento térreo era circundado por uma grade chinesa, também em mármore, que lhe dava grande realce.”

            Contudo, esse patrimônio de importante valor artístico e histórico para Juazeiro, bem como para toda a Bahia, teve um fim com sua demolição, a qual não tem uma data exata nos registros históricos. Assim, se promoveu o desaparecimento de um monumento que, além de representar uma intervenção para o desenvolvimento do país, resguardava momentos únicos na vida de quem por ali passou.

Este texto é de Glícia Lopes, com base em pesquisa realizada no Acervo Maria Franca Pires e na transcrição do trecho do livro "Memória histórica de Juazeiro", de João Fernandes da Cunha (1978), feita por Alison Ferreira.

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