Juazeiro da Cultura e da Música

 Edézio Santos, quem é você?



 
RR - Edézio, comece falando-nos das suas andanças com grandes nomes da nossa música. É sabido que, sempre você foi muito requisitado.

EDÉZIO - Eu sinceramente, não sei quem me descobriu. Não sei por que, quando o camarada chegava em Juazeiro, ia logo perguntando: onde mora Edézio?

A pessoa que eles logo procuravam era Gil Brás, que levava-os até a mim. Quando comecei tive medo. Eu tinha medo do artista de rádio, era um negoção. Com o tempo fui me acostumando.

RR - Quem foram os grandes artistas que você acompanhou?

EDÉZIO - Bevenido Granda, Dóris Monteiro, Alcides Gerardi, Duo Cilerma, Forró com Gerson Filho, o artista porém, que eu achei mais bacana mesmo, foi o Vicente Celestino. Tinha ainda, Gregório Barrios, e outros. Porém com esses eu viajava mais pelo interior da Bahia. Mas, o que mais viajou e me carregou com ele, foi o "maluco" Waldick Soriano, que me levou para o Piauí, Pernambuco, etc.

RR - E como era sua vida de trabalho, com Waldick Soriano?

EDÉZIO - Fazíamos "show de tiro", ou seja, a gente chegava numa cidade de manhã, e resolvia fazer o show para a noite. Botava o carro pra falar na rua, e de noite o cinema estava cheio. Tinha cidade que a gente dizia: "Aqui não mora gente", e de noite, o cinema lotava.

RR - Como é que foi, seu conhecimento com João Gilberto?

EDÉZIO - Eu e Joãozinho de Patu, fomos servir no tiro de guerra. Eu tocava pandeiro e ele violão. Eu me interessei pelo violão, pois achava que ele tocava sozinho e se acompanhava. O Walter Santos, que hoje é cartaz em São Paulo, me deu um violão. Com dois ou três meses, eu já tava fazendo das minhas. Já ia com a turma acompanhar programas de calouros, onde as posições que eu sabia, eles deixavam eu mandar brasa. Quando comecei a andar mesmo com João, ele já fazia muito pesquisa de violão. Ele gostava muito de pesquisar. Aí eu fiquei e ele foi...

RR - Como é que foi você ver João começando a lutar pelo sucesso lá longe, e você torcendo daqui?

EDÉZIO - Primeiramente ele sofreu muito, tendo que passar por uma fase cantando em buates. Até que João gravou um 78 rotações. Eu achei aquilo bacana. Depois ele passou a acompanhar a Elizeth Cardoso. Daí ele foi olhado com mais atenção. Então Elizeth gravou "Chega de saudade", depois João gravou.

Ele criou aquele estilo no violão, aquela harmonia tremenda. E foi muito combatido. Muito antes de ir para o Rio, ele já acompanhava o pessoal, daquela forma. E o pessoal sempre achou que ele era "maluco".

RR - O que João fez por você?

EDÉZIO - Ah! rapaz, o João nunca me esqueceu. Através dele, eu conheci muita gente que vinha aqui em Juazeiro e me procurava. Por exemplo: Carlos Coqueijo.

RR - Quando você foi convidado para trabalhar no exterior.

EDÉZIO - Eu porque sou um elemento, que chamam até de "mascarado", porque eu me escondo. A Vanja Orrico, me convidou para ir com ela até Moscou, e fiquei naquela de amor pela terra e pela casa. Outros convites foram para ir para o Rio, Alcides Gerardi, Vicente Celestino, etc. João sempre disse que eu tinha de ficar aqui pois era a única pessoa que ele tinha para conversar.

RR - E dentro do panorama artístico de Juazeiro?

EDÉZIO - É o seguinte: certa vez, quando eu comecei a fazer minhas musiquinhas, Luís Galvão quis compor comigo e eu nunca pensei de Luís ser o que é hoje.

Eu tinha um conjunto de dança, e excursionávamos muito. Compondo, compondo, compondo, eu fui guardando uns negócios aí. Surgiu o Festival. Eu não tava nesse Festival. Apareceu uma garota que não tinha quem a acompanhasse, a Maria de Fátima, que me procurou e eu aceitei. O negócio é legal eu vou de graça, mas se for palhaçada, eu não vou. Eu gostei do negócio, acabei até torcendo por ela. No segundo festival, eu achei um parceiro legal, o Geraldo Gutz, que trabalhou comigo, e colocamos quatro músicas. Mas essa quantidade não era nada em comparação à gente que tinha até 12 músicas inscritas. Resultado de tudo, ganhamos o segundo, o terceiro, o quarto e o quinto lugares. Incrível mesmo. Mas o meu maior desejo, era unicamente me classificar. Num festival onde tem tanta gente inteligente, jovem, com muito talento, isso já é muito para mim. Teve uma música, que eu queria que entrasse entre as cinco, foi "Caminhos Desertos". O público gostou e cantou as minhas músicas. Isso me alegra. Nesse terceiro festival, eu fiz três músicas. A mais importante foi "Sem rumo, sem vela" que ficou em terceiro em terceiro lugar. Eu não quero o primeiro lugar. Meu negócio é cantar.

RR - E sobre o prazer de tar lado a lado de Caetano Veloso, Batatinha, Moacir, Tuzé de Abreu?

EDÉZIO - Pra mim, foi um prazer acompanhar o pretão Batatinha. Daí ele me propôs que eu trabalhasse com ele. Eu tenho em mente fazer uma ponte Juazeiro - Salvador, onde essa turma boa daqui pudesse aprender alguma coisa e mostrar o que faz.

RR - E no próximo festival?

EDÉZIO - Eu gostei de uma melodia e já estou trabalhando nela.

RR - E o Edézio treinador do Veneza?

EDÉZIO - Eu digo o seguinte: o Olaria pode ganhar o jogo, mas é difícil, principalmente com esses prêmios aí, de 100,00 e bicicletas, etc. Se tem jogador que não vê 5,00 imagine o que cada um não vai fazer por um gol. No meu time, quem fizer gol, quem receber prêmio, duvide com todo o plantel. Assim vai haver o interesse coletivo.

RR - Assim é Edézio Santos. Um típico exemplo de humildade dentro da não muito humilde classe dos artistas. Um homem simples que faz da sua sinceridade o seu estandarte.


Pesquisa no Acervo Maria Franca Pires 

Curadoria: Letícia Mendes

Transcrição do texto: Alisson Ferreira

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