Juazeiro da Cultura e da Ancestralidade Afrobrasileira
Entrevista
com “pai Henrique”
Pesquisa de Izamar para Jornal Rivale de 16 a 17 de março de 1974
P.I. - Seu nome de nascimento?
R.H. - Henrique Pereira Gomes
P.I.
- Desde quando você dança candomblé?
R.H. - Desde o ano de 1947.
P.I.
- Há quantos anos o senhor é "Pai de Santo"?
R.H. - No dia 27 de junho deste completo 27 anos
como Babalorixá.
P.I.
- O que o conduziu ao Candomblé?
R.H. - Uma doença incurável que a medicina não
conseguiu curar. Dentro de casa comecei a receber manifestações que me
assombraram e a meus pais que não entendíamos. E nessas manifestações os orixás
fizeram curas admiráveis.
P.I.
- Qual a sua "digina" dentro da seita?
R.H. - Quibeçô de Umzambi
P.I.
- Quais os seus orixás ou Guias espirituais?
R.H. - O Orixá do "Mutuê" é Ogum Roxo
Mucumbo. O "Dojunto" é OXUM. O caboclo responsável pelos trabalhos
necessários é Siltão das Matas provando todos os seus feitos. O meu
"Irê" é Cosme, conhecido por Robertinho que gosta de banana, mel,
bala doce. Este Irê não reconhece dinheiro de papel e, sim, níquel.
P.I.
- Qual o nome do seu terreiro e onde se
situa?
R.H. - O nome é "Ogum Roxo Mucumbo"
situado no Quidé.
P.I.
- Quantos "filhos de santos" dançam em seu terreiro?
R.H. - Entre Juazeiro, Remanso, Pirapora e São Paulo
tenho um total de 78 Iaôs.
P.I.
- O senhor tem outros terreiros fora de Juazeiro?
R.H. - Sim. Tenho um em Pirapora com o mesmo nome
deste, orientado por uma "filha de santo" de minha confiança,
preparada por mim. A mesma tem a "digina" de Aleguimar de Umzanbi e
zela pelos outros "filhos de santos"
P.I.
- Alguns de seus "iaôs" já "tirou o direito" para se tornar
Babalorixá ou Ialorixá?
R.H. - Sim. Muitos já receberam seu direito e
trabalham por conta própria. Ei-los. Nocidam - Ogum, Landirá - Oxossi, Jaquiadê
- Xangô, Itauêmim (mãe Filinha) - Oxum, Abaiça - Ogum, Aleguemar - Oxum, Odejum
- Oxossi, Tauá - Oxossi, Cidilê - Iansã, Jigexá - Oxum, Cegueci - Iansã,
Micaemsimbi - Iansã.
P.I.
- Quantas ogans e alabês trabalham em seus terreiro?
R.H. - Tenho 2 ogans. Eles são preparados no
"santo" para responderem em todos os atos. Na falta do zelador
respondem os ogans e os alabês. São eles Alejuamim - Omolu e Alaguefam - Oxalá.
P.I.
- Existem segredos no candomblé?
R.H. - Sim. Existem. Por meu intermédio porém, eles
jamais serão revelados.
P.I.
- Qual a finalidade do candomblé?
R.H. - Penso que a finalidade é cumprir uma missão
dada por Deus, que será executada pela pessoa e pelos orixás.
P.I.
- Quantos são os orixás?
R.H. - Os orixás são os seguintes: Ogum, Oxossi,
Xangô, Iansã, Oxum, Iemanjá (mãe do poderoso Ogum), Nanã (avó dos orixás),
Omolu, Tempo, Oxumaré, Catendê, Ossanhe e Oxalá.
Sobre os orixás quero dizer que diferenciações de um
lugar para o outro. Isto depende da nação e da ordem de seu zelador.
P.I.
- Qual a parte folclórica do Candomblé?
R.H. - É a dança com seu colorido enquanto não
descem os orixás, porque estes não estão prontos a atender a chamadas mais a
ordem de Zambi.
P.I.
- O senhor acha que os Orixás já tiveram vida material.
R.H. - Creio que sim.
P.I.
- Qual a linha do seu candomblé?
R.H. - É de Angola (mista)
P.I.
- Como o senhor se sente como "Pai de Santo”?
R.H. - Sinto-me um cumpridor de uma missão, dada por
Zambi
P.I.
- Que diz a respeito dos terreiros existentes em Juazeiro?
R.H. - Acho que todos cumprem seus preceitos e têm
seus valores iguais a mim.
P.I.
- O que pensa o senhor a respeito do candomblé?
R.H. - Se não existissem malentendidos entre os
membros dos próprios candomblé este seria sempre uma coisa certa, pura e
verdadeira.
Realizei - me no Candomblé
Curadoria: Letícia Mendes
Transcrição do texto: Alisson Ferreira
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