As barcas do São Francisco

 

Barca Juazeiro ancorada no cais


Assim como em outros rios do Brasil, foram os povos indígenas quem primeiro navegaram no São Francisco. Suas canoas eram usadas como meio de transporte para pescar, caçar e também se locomover para áreas que fossem possíveis cultivar mandioca, batata e milho. Como também, eram usadas para outras funções, como passeios e visitas a aldeias vizinhas em épocas festivas.

Com o processo colonial e a divisão de sesmarias nas terras brasileiras, surgiu a necessidade de um meio de transporte para adentrar áreas mais remotas e ainda não colonizadas. A partir disso veio os Ajoujos – formado por quatro ou cinco canoas indígenas amarradas com tiras de couro cru. Essas barcas, apesar de artesanais, foram responsáveis por movimentar as cargas no São Francisco e levavam a bordo: carnes, peixes, produtos agrícolas, couro, sal e entre outros produtos.

Com o passar do tempo, as roças e a criação do gado prosperaram fazendo com que aumentasse a necessidade de novas embarcações pra suprir a demanda. Surgiram as embarcações feitas de madeira, com mastros, velas latinas e o uso da força braçal das pessoas escravizadas que ficavam nas coxias remando em uma modalidade conhecida como tapa de gato. Mais tarde com a descoberta das minas gerais passaram a ser usadas velas latinas e remeiros que sucederam os escravizados.

Um tempo depois surgiu a sergipana – barca com dois mastros e velas de pano que usava o vento para a locomoção. Esse novo meio de transporte ajudou muito no desenvolvimento das cidades ribeirinhas ao longo do São Francisco, pois fazia vários percursos em menos tempo.

No entanto, em alguns lugares a falta de ventos dificultava a navegação das Sergipanas e, a partir daí, as barcas motorizadas começaram a ser pensadas. O velho Rocha incentivado por seu filho Ulisses começou então a construção daquilo que parecia impossível para alguns que acreditavam não ser viável a navegação dessa embarcação devido a quantidade de pedras, coroas rasas e de paus no leito do rio que impediriam o tráfego.

Apesar dos alardes a ideia foi seguida e a barca foi construída em tempo recorde. Logo a Araripe foi lançada nas águas claras do rio e para a surpresa dos desacreditados o uso da nova barca foi um sucesso. Sua viagem inaugural durou cinco dias e transportou um carregamento de rapaduras que tinha por destino Juazeiro (BA).

A rapidez e segurança trouxeram para os ribeirinhos uma nova esperança de desenvolvimento graças a Araripe e com isso todo o vale passou a ser bem servido de transporte, cargas, passageiros e malas de correio. No entanto, apesar do sucesso as embarcações tiveram que cessar as vindas a Juazeiro (BA), Petrolina (PE) e redondezas devido a construção da barragem de Sobradinho na década de 1970.

As barcas deixaram de fazer parte da paisagem da rota de navegação de Juazeiro até Pirapora (BA). Muitos dos barqueiros se aposentaram e os que ainda realizavam as atividades ficaram limitados a percorrer apenas certos trechos do rio.

As velhas barcas tinham nomes bem interessantes como Bertioga, Mala real, Casa Vermelha, Guaraina, Rizona e tantas outras. Mas, agora, só existem na memória dos que a viram e navegaram pelo São Francisco .

Por Livia Bernardo, estudante de Jornalismo em Multimeios

Referências: MAGALHAES, Ermi Ferrari. As barcas e sua influência no desenvolvimento do São Francisco. S/editora. Juazeiro, 1978

 

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